Convidados foram a influencer Miss Preta, de Pinhais, e o professor da UFRJ Cláudio Miceli
Primeira mentora do Redes de Formação em Cultura Digital, na manhã de quarta-feira, 14, a influenciadora e ativista Miss Preta foi direta ao falar da importância do engajamento virtual para o debate público nos dias de hoje. E lembrou um movimento recente – o do carioca Rick Azevedo, que puxou no ambiente virtual a discussão pelo fim da escala de trabalho 6×1 – para ilustrar seu discurso.
“Tudo hoje é rede social”, garantiu. “O Rick Azevedo agora foi eleito vereador, mas começou anônimo na internet. E quem disse que uma pessoa só, usando um celular, não consegue movimentar todo o rolê. Eu fico muito feliz que a discussão que ele propôs tenha chegado no Congresso Nacional.”
O Redes de Formação em Cultura Digital é uma parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro com o Ministério da Cultura. Em Curitiba, a iniciativa tem o apoio da UFPR, do Comitê de Cultura do Paraná, do Laboratório de Cultura Digital e da Mídia Ninja. O evento promove oficinas e palestras para assessorar projetos sociais e culturais a obterem mais visibilidade e engajamento nas redes.
Nascida em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, e filha de uma cortadora de cana, a influenciadora, que foi eleita miss Pinhais em 2018, não se opõe à mistura de negócios e militância política. “Eu sempre ouvia que quem lacra não lucra, mas fui percebendo que se você trabalhar o público, ir botando suas pautas, dá sim pra ser ativista e fazer da internet um trabalho pra se sustentar. É uma grande responsabilidade, claro”, disse.
“Eu não acredito que se possa criar um ativista. Eu acredito que as coisas vão acontecendo e você se torna um ativista”, explicou. “Quando fechei o meu primeiro contrato com uma marca grande, a marca quis me contratar justamente pelo meu ativismo.”
“A internet não pode ser um lugar só de entretenimento, também tem que ser usada pra discutir os nossos temas, os nossos problemas.”
Pra quem está começando, o conselho é: apenas faça. “Eu comecei com um celular bem simplesinho, daqueles que tem que ficar limpando a câmera toda hora. Eu mesma gravava, editava, postava. Hoje, ‘Miss Preta’ é uma marca. Eu patenteei. Você não precisa de uma grande equipe”, afirmou.
À tarde, foi a vez do professor de Ciência da Computação da UFRJ Cláudio Miceli falar no Redes de Formação sobre o futuro da Inteligência Artificial. “A IA é uma grande área da computação que estuda algoritmos que aprendem e se comportam de maneira similar ao ser humano”, definiu. “Por isso, um carro autônomo consegue aprender sozinho o sentido de uma rua. É assustador, mas funciona que é uma beleza”, brincou.
Para o pesquisador, em breve a humanidade entrará na era do que ele chama de “indústria 5.0”, de produção personalizada, e não mais em massa. “Quando eu vou comprar um computador, gasto meses investigando, pesquisando o que eu quero, até que fico de mau humor e compro qualquer coisa”, contou. “Isso é razoável? Não sei. Agora, imagina que eu pudesse dizer pra indústria o que eu quero, o que eu preciso. Usar a Inteligência Artificial pra dizer isso em tempo real. O futuro é a indústria cognitiva.”
Nem tudo, no entanto, são flores, ou belos algoritmos. “Existem desafios. Estamos trabalhando pra modelar essa nova sociedade.” No momento, a desconfiança é a melhor amiga da humanidade. “Quando um sistema de reconhecimento facial diz que um inocente é criminoso, o sistema está errado. Mas está errada também a nossa fé cega no sistema. Por que ninguém pensou em verificar isso?”
A Inteligência Artificial também foi o tema da palestra que encerrou a quarta-feira, ministrada pelo coordenador-geral do Comitê de Cultura do Paraná, João Paulo Mehl. Ele orientou os participantes a como usar a nova tecnologia na escrita criativa de projetos culturais.