Pesquisador ofereceu a última mentoria do Redes de Formação em Cultura Digital; evento durou quatro dias

De acordo com o Digital News Report de 2024, pesquisa feita pela Reuters em 47 mercados de comunicação, 50% dessa população se informa hoje pelas redes sociais. Dentro disso, 43% diz não ter por hábito checar os conteúdos que recebe em forma de notícia em aplicativos. E, o pior de tudo, 41% dessas pessoas tem por hábito repassar adiante essas informações.

Os números foram apresentados na tarde deste sábado, 16, pelo pesquisador Marco “Amarelo” Konopacki, durante o Redes de Formação em Cultura Digital, iniciativa da UFRJ e do Ministério da Cultura, que em Curitiba tem o apoio da UFPR, do Comitê de Cultura do Paraná, do Laboratório de Cultura Digital e da Mídia Ninja.

“Isso faz com que notícias falsas atinjam um grande número de pessoas num curto espaço de tempo, de uma forma nunca antes possível pra qualquer veículo de massa”, pontuou Marco Konopacki. E, como Brasil é o segundo mercado mundial da rede WhatsApp, atrás apenas da Índia, o país está ainda mais suscetível a uma indústria dedicada ao que pode ser chamado de “estupidez coletiva”.

“A desinformação em escala não é um acaso, é um processo operacional montado para beneficiar um grupo ou alguém.”

Para Konopacki, é importante que projetos com escopo social tenham consciência desse fenômeno e da necessidade de combater seus efeitos, de maneira organizada. “O mais importante não é mexer no conteúdo, até porque aí você tem questões que envolvem liberdade de expressão, mas enfrentar essa estrutura, essas redes de difusão”.

Mais cedo, Dani Moura, repórter e fundadora do Maré Online, o principal portal de notícias do complexo de favelas do Rio de Janeiro, demonstrou como o jornalismo de qualidade pode incidir sobre a vida de uma comunidade.

Segundo ela, em apenas um ano, de 2017 a 2018, as operações policiais na Maré, notórias pelas violações de direitos humanos e mortes que causam, caíram de 41 para 16, e isso teve um motivo concreto. “Eu acredito que o Maré Online contribuiu pra essa queda”, explicou.

“Nós mudamos o discurso. Em uma matéria sobre apreensão de drogas, não falávamos apenas desses dados, mas também de quantos alunos ficaram sem aulas e de quantos postos de saúde foram fechados por conta disso. Sem contar os impactos na economia local e a interferência no direito de ir e vir dos moradores”.

Depois da criação do Maré Online, segundo ela, até veículos mais tradicionais, ditos da “grande mídia”, passaram a reporter esse lado mais humano das histórias. “A comunicação pode ser uma ferramenta de mobilização da comunidade, de acesso a direitos.”

Empreendimentos como o Maré Online, no entanto, exigem precauções extras. “Fazemos reportagens sob a ótica dos moradores, então é preciso tomar um cuidado muito maior com a preservação das fontes. As pessoas vivem ali, podem ser afetadas. Elas não falam com você e depois vão embora.”

Para Valdo Cavallet, universidades não têm autonomia

Quem também participou neste sábado do Redes de Formação em Cultura Digital foi o professor Valdo Cavallet, ex-diretor da UFPR Litoral, projeto que tentou remodelar a educação superior nos anos 2000, com uma pedagogia inovadora.

Com essa bagagem, Cavallet de cara criticou o que definiu como “estrutura monastérico-militarista” das universidades brasileiras. “As universidades não têm autonomia nenhuma, zero. O Ministério da Educação está tomado por empresas do negócio educacional. E existe um sistema que fica dizendo o que você pode ou não fazer”, censurou. “Se falarmos dos cursos de mestrado e doutorado, então, aí a submissão é total, uma fábrica de adoecimento.”

“Eu não sou contra a universidade, sou contra isso que está aí”, contemporizou. “Não gosto de ser definido como mestre e doutor. Eu também já fui cobrador de ônibus e jogador de futebol, por exemplo. Não tenho um currículo, tenho uma vida.”

“Eu não posso, com um doutorado, querer saber mais do que as pessoas que se constituem em determinada realidade.”

Para professor, os movimentos sociais são uma boa escola. “Temos que nos aproximar de todas as pessoas que fazem algum tipo de movimento por um mundo melhor. E termos que ser uma teia, atuar como uma rede.”