Os conselhos incluem diálogo sereno e firme, discurso honesto, compreensão com o contraditório, humor, colaboração mútua e, claro, investimento financeiro
Ao que parece, não existe uma receita infalível para fazer o seu projeto obter mais visibilidade e engajamento nas redes, furando bolhas ideológicas, e ao mesmo tempo passar incólume pela saraivada de cancelamentos, discurso de ódio e reações irracionais que hoje caracteriza o ambiente virtual. No entanto, é possível indicar alguns caminhos para romper resistências.
Para o advogado Matteus Henrique, na última campanha eleitoral se destacou pelo uso das redes sociais, eles passam pelo diálogo sereno, mas firme, e pelo investimento financeiro. “A gente não pode fazer comunicação apenas com boa vontade. É claro que isso ajuda muito, mas você precisa também de dinheiro, que financia dados e pesquisa. Assim, você entende os instrumentos que pode usar pra chegar onde quer.”
Matteus Henrique palestrou nesta sexta-feira, 15, no segundo dia do Redes de Formação em Cultura Digital, encontro que promove oficinas e mentorias para o assessoramento técnico de projetos sociais e culturais. A iniciativa é uma parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Ministério da Cultura, que em Curitiba tem o apoio da UFPR, do Comitê de Cultura do Paraná, do Laboratório de Cultura Digital e da Mídia Ninja.
Ao mesmo tempo, Matteus afirma que é preciso dialogar com o outro, mas sem fugir de eventuais debates necessários. “Principalmente quando a gente discute cultura, aparecem temas que são difíceis de tratar com determinada parcela da sociedade, que não aceita a defesa de mais políticas públicas, mais verbas para o setor.”
Pra encarar esse tipo de conversa, ele recomenda honestidade e compreensão. “Não dá pra encarar todo mundo que pensa diferente de você como ignorante”, aconselhou. “É preciso olhar as pessoas a partir da perspectiva delas, das dificuldades delas. Quando se faz isso, as pessoas te mostram saídas, desde que você esteja disposto a se despir dos próprios preconceitos, sair do pedestal.”
“Se você abrir o Twitter agora, com certeza vai se deparar com o textão de algum especialista que tem a solução pra todos os nossos problemas. Pode ser, mas ainda acho que conversar com as pessoas funciona melhor.”
Para a professora da UFRJ e coordenadora do Redes de Formação em Cultura Digital, Ivana Bentes, a quantidade de vozes e desinformação presentes hoje na internet constituem uma “ruídocracia”, que gera distúrbios, comportamentos viciantes e muitas barreiras ao contraditório, principalmente na esfera cultural. “Antes, quem dizia o que era notícia eram os grandes jornais. Hoje, cada um de nós define o que é noticiável”, lembrou. “O celular é um dispositivo extraordinário e também diabólico.”.
A pesquisadora tem uma sugestão pra lidar com isso. “O humor quebra as resistências, os preconceitos”, aconselhou. “Os memes, por exemplo, são um tipo comunicação muito forte, muito veloz, e que dá um recado imediato.”
Para a socióloga e coordenadora de Desenho de Políticas Públicas do Laboratório de Cultura Digital, Rachel Bragatto, existe ainda outra possibilidade. “Eu acredito muito na comunicação em rede. Se você é um criador de conteúdo, agir em rede, colaborar, ajuda muito todo mundo a crescer”, apontou. “As plataformas apresentam seus serviços como se fossem neutros, passivos, como se chegassem em todos da mesma forma, mas não é assim. ”O apoio mútuo faz toda a diferença.”
Também nesta sexta-feira, o Redes de Formação em Cultura Digital contou com palestras sobre empreendedorismo social e emergência climática.